O futebol e o mimo

Longe vai o tempo em que futebol era esporte de "macho", com amor à camisa, sem mimizices e com atletas sem firulas, apenas com a vontade de entrar em campo e ganhar o jogo. Atualmente - e muito por culpa da profissão que escolhi seguir, o jornalismo - nos preocupamos mais com a saída do jogador, o seu último corte de cabelo (por favor, Neymar, para com isso), a sua última namorada ou o motivo por que não comemorou a vitória do seu time (oi, Luís Fabiano, tudo bem?).
Metade da culpa desse mimimi todo é, sim, culpa da imprensa. Depois de anos sem um astro brasileiro nos gramados (há quem ainda chore com o fracasso do Robinho na Europa), a aparição de Neymar trouxe não só uma renovação ao futebol brasileiro, como também uma nova forma de enxergarmos - e justificarmos - as ações do jogador.
Entrevistas e reportagens sobre o atacante do Santos se resumem a: você vai para a Europa? você quer ir para a Europa? você vai renovar com o Santos? se imagina jogando com o Messi? como vê as entradas violentas no futebol? e - agora, na última escala da vergonha alheia - você já visitou a Bruna Marquezine no Projac?
Os repórteres esportivos precisam deixar de lado a proteção excessiva ao Neymar e ir aos fatos. Ele é um excelente jogador, mas o mimo do clube, patrocinadores e imprensa o tornaram a principal vítima do esporte violento. Não me interpretem mal, quem propositadamente dá entrada violenta no rival em campo deveria ser banido do futebol. O problema é que o Neymar adotou o jeito malandrinho de ser: se vê que não consegue seguir adiante com a jogada, dá um jeito de tropeçar, cair, e chorar por uma falta invisível. A maioria das vezes dá certo.
Repito, ele é um excelente jogador. Tem vezes que o cara faz coisas que nem o capeta acredita. Mas futebol, dentro das quatro linhas, é jogar bola, sem firulas e sem encenações. Há até quem diga que se ele for para a Europa com esse jeitinho, vai ser o segundo Robinho e se dar mal, muito mal.

Depois há os jogadores - experientes, por sinal - que acordam de mal com a vida. Não são mais tão elogiados (talvez porque sempre, sempre, sempre ferram com o próprio time) e decidem que "não estão a fim" de comemorar a vitória do time em campo. Foi o caso do Luís Fabiano neste fim de semana, que apareceu amuado em campo e, alegando problemas pessoais, não comemorou os gols. 

Foto: Gazeta Esportiva

Vamos lá, quantos de nós tem problemas em casa e precisa chegar no trabalho e "mandar ver"? Não pode ser diferente com os jogadores de futebol, sobretudo as estrelas, que ganham milhares, mas na hora de retribuir a gentileza ao clube, são expulsos por reclamações ou agressões.
Tentando não falar como são-paulina, mas como amante do esporte, digo: Luís Fabiano, o campo não é lugar de mimizices. Engole o choro e joga bola. Beijos, te amo.